Turismo

"Poupar em administração e investir em promoção"

O ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros assegura que uma das regras de ouro do Governo aplicadas no Turismo é "poupar em administração e investir em promoção". Uma opção que tem dado resultados, sobretudo na valorização da iniciativa privada. Aliás, Paulo Portas que participou na sessão de abertura do 38.º Congresso da Associação Portuguesa de Agentes de Viagens e Turismo (APAVT), assumiu estar perante "os máximos criadores de riqueza", deixando claro que "o crescimento económico é assegurado pelas empresas e que o mérito é das pessoas", cabendo unicamente ao governo facilitar ou dificultar.

Como defende que o Estado apoie "sem preconceitos" os privados que dão enorme contributo "para a imagem e solidez de Portugal", até vai mais longe ao assumir que "não foi o sector privado o responsável pela dívida do País", pelo que deve ser acarinhado.

Novos mercadosMas onde promover a marca Portugal e o destino turístico nacional? A questão não gera unanimidade, mas da sessão de abertura do 38.º Congresso da APAVT sobram contributos que apontam caminhos incontornáveis.

O Secretário-Geral da Organização Mundial do Turismo, Taleb Rifai, deu o mote: "Portugal tem uma grande história apesar de ser um País pequeno. E os turistas querem viver experiências, apreciar o que é único e o que tem história. Logo, se souber formatar esta combinação, Portugal pode competir em qualquer mercado".

O ministro de Estado também comunga desta visão. Mas pede uma ambição que contorne o excesso de estagnação na Europa. Aconselha o sector a procurar mercados não tradicionais. Fixa o olhar na América latina, Ásia e Estados Unidos e conclui: "Se crescermos um bocadinho nesses mercados estamos a crescer imenso".

O ministro assume que "há um Portugal desconhecido em mercados com grande potencial, onde há crescimento económico" sobretudo nos ditos emergentes, onde há classe média a prosperar. Cabe ao País procurar ser o destino europeu de toda essa gente.

Para Portas, a opção não significa abandonar os mercados tradicionais. Contudo, salvaguarda que convém começar a vender a marca Portugal não na óptica de quem domina a oferta mas sim, de forma diferenciada e atractiva, adaptada aos interesses da procura. "Não vendam aos outros aquilo que pensamos do País mas o que é capaz de agradar a quem nos quer visitar".

APAVT decreta suspensãoPara o presidente da APAVT, a conjuntura obriga a olhar o mundo. "É tempo de promover Portugal", como marca única e capaz de congregar todas as competências de exportação. Ou seja, para que o País capte os diversos mercados emissores, em vez de acções isoladas, de desagregação e dispersão da oferta, importa unir esforços e juntar turismo, vinhos, cortiça, tecnologia e calçado, alerta Pedro Costa Ferreira.

Na sua óptica, numa era em que os recursos escasseiam, importa aplicá-los onde existe potencial. Daí que sugira uma opção clara pela internacionalização, o que implica a suspensão temporária da promoção interna. "Infelizmente, não vamos precisar, nos tempos mais próximos, de convencer os portugueses a fazer férias em Portugal", constata.

A secretária de Estado do Turismo não é tão radical. Mas, tal como Portas, subilnha que importa dar prioridade à promoção. "Vender, vender, vender" é o lema de Cecília Meireles, que diagnostica perdas de tempo em discussões quando "o ideal é meter pés ao caminho e buscar turistas", até como forma de compensação perante a queda do mercado interno.

Onde? "Aos países europeus com mercados consolidados e aos ditos tradicionais, onde o Turismo de Portugal estará a falar para o consumidor final. Mas também nos mercados emergentes, com outras estratégias distintas" explica.

Mas também internamente "Os portugueses devem perceber que o Turismo representa 9% do PIB e 8% do emprego", refere. Uma sensibilização que implicará também uma reorganização do sector, pois não vai ser possível manter uma aposta que custa "um milhão de euros gastos em promoção genérica", sem privilegiar umas regiões em detrimento de outras.

Diplomacia económica implica desburocratizarPaulo Portas aproveitou o congresso da APAVT para explicar os contornos da diplomacia económica que desenvolve, "aquela que não desvaloriza nenhuma outra", mas é a que está adequada ao século XXI. "É a continuação da economia por outros meios", sintetiza, assegurando que o compromisso do governo leva a que os investidores portugueses não percam oportunidades em mercados nem sempre acessíveis.

Ajudar as empresas no processo de internacionalização, na captação de investimento directo estrangeiro e na atracção do turismo são os objectivos da missão que lhe está confiada, "sem capelinhas, mas com estratégia". Garante que os resultados não tardarão em aparecer até porque as políticas em vigor são sólidas.

Portas recordou o que tem sido feito: unificar as redes externas, com estratégia coordenada entre as redes diplomática, comercial e turística; obrigação das representações no estrangeiro, embaixadas e consulados, a ceder espaços para acções concretas e privadas que fortaleçam a imagem de Portugal; dotar os diplomatas da capacidade de percepção da linguagem comercial; fazer coincidir missões políticas ao estrangeiro com as missões empresariais, para que a economia esteja na mesa das negociações; consulados e embaixadas tem 'business plan' aprovado para serem um centro de negócios da marca mundial que é Portugal; a simplificação burocrática.

Pedro Costa Ferreira deixou um elogio a este trabalho do Ministro no desenvolvimento da diplomocia económica, que considera dever incluir "permanente preocupação com o turismo", "que deve ser tarefa de todos: Estado, empresas e associações" e que deve dar a atenção merecida a aspectos decisivos para o sector, alguns burocráticos. "Urge agilizar os procedimentos de emissão de vistos, mormente nos mercados emergentes, por forma a facilitar a vinda de turistas", que nestes mercados procuram cada vez mais Portugal, referiu o presidente da APAVT.

Portas prometeu de imediato mais agilidade, quer para aumentar a quantidade de vistos turísticos, a conceder em menos tempo, como na imaginação e ligação de políticas, como as que combinam as de residência com as de investimento. São os casos dos 'Vistos Gold' que garantem condições de permanência favoráveis em Portugal desde que haja investimento financeiro ou imobiliário dos interessados. E os que já fizeram pedidos estão ligados ao Turismo.

Subordinado ao tema 'Potenciar Recursos, Romper Bloqueios, Ganhar Mercado', o principal fórum de debate turístico nacional decorre em Coimbra até domingo. Perspectiva-se que seja um encontro memorável, gerador de "um debate de alto nível" e capaz de apontar caminhos para o Turismo português.

CONGRESSO APAVT

Madeira faz-se notarA Região está atenta à reflexão. A secretária regional e o director de Turismo, Conceição Estudante e Bruno Freitas; a deputada do PSD à Assembleia da República, Cláudia Aguiar; o presidente da delegação regional da Ordem dos Economistas, Eduardo Jesus, os 'vices' da APAVT, João Welsh e Duarte Correia marcaram presença na abertura do congresso.

Inscritos estão também o presidente da mesa das Agências de Viagens da ACIF, Gabriel Gonçalves; os administradores do Grupo Pestana, José Theotónio, e do Grupo Porto Bay; e os administradores da Intertours, Emílio e Gustavo Rodrigues.

Turismo resistiuCecília Meireles anunciou que as dormidas em Portugal cresceram de forma ténue em 2012, um acréscimo que deve situar-se nos 0,2%. Valeu o turismo externo que cresceu 3% em hóspedes e 4% em dormidas, graças ao crescimento de 10% em mercados como Brasil, França e Alemanha. Os números levam a que considere que o turismo português resistiu, atribuindo méritos aos empresários.

Para a resistência contribuiu ainda o "arrumar da casa, com a redução de 30% nas despesas do Turismo Portugal, o que implicou sacrifícios. "Mas era imprescindível para que Portugal tivesse uma imagem internacional de credibilidade", refere, prometendo para breve a reforma regional do Turismo, uma lei que sairá do parlamento nacional.