Turismo

Nascer numa crise dá garra

Dionísio Pestana nunca fecha portas. Assumido “sobrevivente”, deixa-se guiar pelas prioridades e sem negar a “sorte”, julga que o grupo com 40 anos é forte porque aprendeu com a crise, na escola da Madeira.

Dionísio Pestana lidera o maior grupo hoteleiro português que, até Novembro deste ano, festeja o quadragésimo aniversário. Uma ocasião para medir o pulso à marca mundial nascida na Madeira e de perspectivar o futuro de quem se habituou a percorrer caminhos difíceis, embora com paixão.Como é que um grupo que nasce numa ilha ultraperiférica chega aos 40 anos, com 94 hotéis, em 13 países e 3 continentes?(risos) É uma boa pergunta. Penso que foi uma mais valia ter começado na Madeira, no momento e nas circunstâncias em que começámos. Foram 20 anos a fazer a escola. Nos primeiros 20 destes 40 anos passamos de 1 para 2 hotéis e aproveitamos esse primeiro momento para perceber bem o que é este negócio. Como a Madeira está virada para o turismo acabou por ser fácil porque havia muitas forças, Câmara, Governo e parceiros, a lutar pela mesma causa. Esse empenho e dinâmica, que muitas vezes não se vê lá fora, foram bons porque no princípio, nos anos 70 e 80, contribuíram para que ganhássemos auto estima e confiança para crescermos lentamente, passo a passo.Quais as etapas mais marcantes nestes 40 anos?Se olhar para trás o mais marcante foi ter nascido numa crise. Quando se nasce numa crise que demora, depois do 25 de Abril, foram 10 anos de sobrevivência. Deu muita força e muita garra sobreviver e não perder o pouco que havia na altura e consolidar de tal maneira para que no futuro o risco de qualquer investimento e negócio pudesse ser bem avaliado. Qualquer grupo e empresário que sobreviva a uma crise e consiga ainda viver obviamente que tem a base e as fundações feitas para o futuro.O que pesou mais no sucesso: a sorte, ser um gestor que muitos consideram ter ‘low profile’, ter bons conselheiros, ter uma equipa coesa?É um conjunto de muitos factores e cada um tem o seu momento. Faz parte da fórmula ter visão, estratégia, risco, factores necessários um grupo terTive bons quadros que souberam aconselhar e bem, fazendo o trabalho de casa. Os trabalhadores no dia a dia e na linha da frente souberam e sabem perceber o cliente melhor do que ninguém e com provas dadas, porque senão com 40 anos neste negócio e na Madeira já não existíamos. O facto de ter nascido na África do Sul e ter uma escola mais aberta e liberal permitiu que chegasse a Portugal, em 1976, depois da revolução, com um comunismo muito forte e presente e com tudo muito fechado, e abrisse portas, possibilidades e visse isto com outros olhos.Foi um pouco de sorte e de timing. E também o desafio que o meu pai faz e a confiança que em mim depositou na altura...Na altura tinha 24 anos e não sonhava entrar neste mundo?De maneira nenhuma. Vinha cá com a missão de salvar o hotel (o Carlton) que estava na pré-falência e quando acabasse a missão voltava para a África do Sul e o meu objectivo estava alcançado.O que é que o atraiu para ficar, de vez?As oportunidades. Estava na ilha certa, no País certo. Era um rapaz com 24 anos e as oportunidades estavam em mudançaÉ o conselho que hoje dou ao mais novos: Portugal é para vocês com 20 e poucos anos o que Portugal foi para mim nos anos 70. Pensava e fazia coisas de maneira diferente. Era uma escola nova. Essas oportunidades aparecem quando a abertura e a ideia que temos das coisas dão-nos a hipótese de ter mais do que uma versão. Foi isso que aconteceu e estou satisfeito.Crédito favorece aposta na América do SulTencionava atingir já este ano a meta de chegar às 100 unidades hoteleiras e a todos os continentes. Mantém o propósito?Os três objectivos eram: 100 hotéis, 10 mil quartos e nesta década três continentes. Já estamos nos três continentes, os 10 mil quartos estão quase e os 100 hotéis ainda vai demorar algum tempo mas até ao final do ano vamos esperar que aconteçam mais uma ou duas novidades.Qual é o plano de investimentos para os próximos meses e anos e em que zonas geográficas?O modelo de negócio mudou muito e temos estado a adaptá-lo nos últimos dois três anos. A banca hoje não tem financiamento em Portugal. Os financiamentos para a hotelaria estão fora de Portugal, mais na América do Sul, aí sim, existe crédito. Então a nossa aposta tem sido ir à procura de parcerias e de modelos de gestão diferentes daqueles que estávamos habituados a ter, explorando hotéis em ‘contract management’.Com esse modelo temos tido muita procura. Temos ganho concursos. Colômbia foi um exemplo e agora estamos convidados para o Peru. Pouco a pouco tem havido diversificação do nosso portfólio e a crescer em países em que não pensávamos.Para além do factor crédito, essa sedução pela América do Sul tem a ver com o imenso mercado interno disponívelAlguns países da América do Sul neste momento são aquilo que Portugal era nos 70 e 80 e que o turismo era nessa altura. Países virgens, com grande vontade, aptidão natural e com mercado a crescer.E com muitas potencialidades e atractivos naturaisOlhe para a Colômbia. É uma Espanha, com 5 milhões de habitantes, praias lindas, uma capital grandiosa, jovens com vontade de aprender, com muito apoio do governo local e central. É essa dinâmica e esses pressupostos que ajudam os investimentos e atraem os investidores.Já que falou de Espanha, está aqui tão perto e ainda não tem marca Pestana... É verdade...À espera da oportunidade certaComo é que estão as negociações?Estão sempre em curso. Os espanhóis, tal como outros na Europa, estão a pagar caro um preço que praticaram. Os preços subiram durante cinco anos até um pico em 2007, 2008. Têm vindo cair pouco a pouco. Temos estado em contacto. Temos estado perto, mas ainda não chegamos ao nosso ponto de equilíbrio, àquilo que a gente acha que é um bom negócio.Muitas vezes as pessoas pensam que nos metemos neste negócio da hotelaria pela parte ‘glamour’. Vamos sempre com critérios de investimento, com o nosso rigor e os preços e a rentabilidade tem de ser aquela, se não esperamos pela oportunidade certa.A vossa odisseia europeia, com presença já em Londres e Berlim, é para continuar?Óbvio. É importante que, no mínimo, um grupo português como o nosso, que tem nos seus planos ser uma bandeira internacional, tenha uma presença nas capitais europeias. Ainda agora vi essa mais valia e dinâmica em Berlim, durante a ITB.A vossa aposta em Espanha será em Madrid?Madrid e/ou Barcelona. São duas capitais!!!E no resto da Europa, o que é que está a mais avançado?O que acontece é que depois de estarmos em países como a Inglaterra e Alemanha é que começa a haver convites de grandes empresas. Lá o negócio da hotelaria é dividido em quatro fases: há o projectista, o empreiteiro/construtor, o financiador/proprietário e quem faz a gestão. Em Portugal é que ainda a gente faz tudo. Lá não é assim. Aquilo é tão sofisticado que não passa pela cabeça que o hoteleiro tradicional faça o investimento desde o princípio: compre o terreno, faça as avaliações, financie, construa e coloque o hotel no mercado. Na Alemanha, sobretudo os fundos de imóveis, dão muito valor e andam à procura sempre de uma marca e de empresas que possam fazer a exploração, baseada num rendimento mínimo.Porto Santo com produto adequadoComo é que vai a marca Pestana em Portugal, ainda com grande peso na Madeira?A Madeira é a minha casa, é onde me sinto bem e onde estou presente grande parte do ano. Tem corrido bem, tem havido anos piores e melhores, mas isso faz parte do negócio. Neste momento, preocupa-me o Inverno. A Madeira tem um problema de destino no Inverno, mas pelo contrário, no Verão, tem cada vez mais procura.Nos último dois anos, o  nosso sucesso no Porto Santo, com produto adequado às condições do Porto Santo, tem sido superior as expectativas.Ficou agradavelmente surpreendido.Muito. Foi uma aposta forte do grupo. Tanto assim é que vamos agora explorar o Colombo's. São mais 200 unidades, a juntar às 300 do Pestana Porto Santo. Ficamos ali com 500 unidades. É para crescer porque a procura e os comentários dos clientes vão nesse sentido. Temos um ranking interno que resulta da medição da satisfação do cliente que é feito por uma empresa americana, sem nenhuma interferência nossa, e quem ganhou o ano passado foi o hotel do Porto Santo.Vai aplicar ao Colombo's Resort o mesmo regime que aplica no Pestana Porto Santo, o ‘all inclusive’?O modelo é esse. É isso que o mercado pede e procura e obviamente que vamos dar o que o cliente quer.Um modelo, o do ‘tudo incluído’, por vezes criticado.É criticado por pessoas que não o conhecem e não estão no mercado como hoteleiros e investidores. Percebo que as pessoas muitas vezes achem que o hoteleiro  devia só se preocupar com a dormida. Durante anos foi assim no nosso hotel no Porto Santo e até correu mal para nós e para todos outros porque não havia clientes. Hoje não. O cliente quer saber quanto é que gasta nas férias. Tem um orçamento e não quer subir esse valor. Isto é verdade para os cruzeiros e quando se vai lá fora às Caraíbas...O modelo e perfil dos clientes ao longo dos anos tem vindo a alterar-se. Os orçamentos são cada vez mais limitados e as pessoas não querem ter surpresas.Acha que as pessoas se equivocam  ao associar o ‘all inclusive’ à perda de qualidade?Pelo contrário. Para nós tem mais despesas. Temos que ter equipas de animação completas, temos que dar muitas mais refeições e tomar conta de famílias. Tenho a certeza que em termos de custo é mais caro para o hoteleiro. Obviamente tem mais receitas porque as férias são feitas dentro do hotel.Turismo fora do Funchal é ilusãoNa Madeira houve uma unidade que não correu bem, o Pestana Atalaia. Porquê?Por causa da localização. Quando comprei o terreno era para ser imobiliária. Só que gostei tanto do sítio que achei que era uma pena e quis lá fazer um hotel. Na altura, acreditei que havia turismo fora do Funchal. Criticava-se que o turismo era muito urbano e que devia haver produtos fora do Funchal. Tentei. Correu mal.É uma ilusão o turismo fora do Funchal?É uma ilusão. É o próprio mercado que o diz. Os operadores pagavam menos preço e havia menos ocupação. As pessoas não procuram. Tenho pena. Acho que as pessoas iam valorizar mas não aconteceu.Não será que o grupo tem uma vocação urbana?Não é verdade. Já demonstrámos ao contrário no Porto Santo e no Algarve.E também têm as Pousadas que desmistificam essa ideia. Pousadas de Portugal que são as preferidas dos turistas para umas férias de sonho no recente estudo da Deco/Proteste. Previa expandi-las internacionalmente, mas até agora só conta com uma unidade no Brasil. Houve um abrandamento?Houve. Tivemos uma primeira experiência no Brasil, o Convento do Carmo, que tem sido um sucesso. É um dos hotéis referência e um exemplo para os brasileiros de como recuperar património e história e isso foi reconhecido pelos ministros na inauguração.A partir desse ponto, o nosso crescimento tem sido mais virado para a descentralização e para as capitais. Temos planos e projectos mas não foi ainda possível lá chegar.A crise em Portugal limitou muito o crédito para esse tipo de investimento.E também porque, em termos de dimensão, as Pousadas geram menos receita?A nova geração de Pousadas já não. Temos dois exemplos de muita procura e oferta: a do Freixo, no Porto, e a Cidadela, em Cascais. Tenciona aplicar na Madeira o conceito Pousadas ou não faz sentido?Pensámos. Só que não há nenhum edifício emblemático que possa ser histórico e ter capacidade para acolher, no mínimo, 100 quartos. Menos já não é rentável. É muito difícil recuperar património classificado onde as exigências são muito maiores.Falou-se em tempos da Fortaleza do Pico?Exactamente. Era para  ser a primeira e emblemática. Na altura os 100 quartos eram impensáveis. Ainda pensámos em 50, mas não avançou.E está fora de hipótese?Nunca gosto de dizer que está fora de hipótese, mas neste momento não é uma prioridade.Remodelar custa 10 milhões por anoE na área da hotelaria e turismo está previsto mais algum investimento na Madeira?Neste momento, para além do Porto Santo, temos a remodelação dos nossos hotéis. As pessoas tendem a esquecer que estes hotéis são um barco grande com investimentos enormes e precisam de obras de sete em sete anos. Fechámos o nosso hotel na praia Formosa durante seis meses para uma recuperação total e quando abrir é um hotel novo.Quanto é que investem por ano em manutenção?O número que tenho do ano passado anda à volta de 10 milhões de euros por ano.Falou-se que o Grupo Pestana estaria interessado na gestão do Bahia Palace nos Açores. Em que pé está essa intenção?Temos duas pousadas nos Açores e na altura em que fizemos um estudo de mercado, há 5 anos, sentimos que no destino onde queríamos ter presença, em Ponta Delgada, já havia uma oferta muito grande, graça ao efeito da Sata Internacional. As oportunidades que apareceram não eram diferentes ou interessantes. Mais tarde apareceu essa oportunidade de gestão. Não foi possível concretizá-la, mas continuamos abertos a essa possibilidade.Austeridade era inevitável e necessáriaDionísio Pestana lamenta a falta de coragem política. Garante que as correcções às promessas pecam por tardias. Mas avisa: há limitesO que lhe tira o sono nesta era marcada pela recessão e austeridade?Não fazer o trabalho casa! Mas neste momento preocupa-me o que vai acontecer à Europa e ao euro. Já estive mais preocupado e dormi pior o ano passado. Agora começo a ver luz ao fundo do túnel. Preocupa-me obviamente a situação de Portugal. Ter que corrigir o que está ser corrigido correu bem até certo ponto porque tinha que ser. Só que há um limite e espero que esse limite seja alargado para que as pessoas possam ter um espaço para poder crescer e o País também.O que acha das medidas que têm sido impostas aos portugueses? Concorda? Acha que são muito pesadas de uma vez só?Vejo isto como uma empresa. Numa empresa é assim que temos que fazer como está a ser feito de há dois anos para cá. Não havia políticos em Portugal com coragem para tomar as medidas que foram tomadas. É por isso que a gente chegou onde chegou porque os políticos só prometiam.Aqui há dias ouvi alguém dizer que na privada quem reduz custos é um herói. No estado quem quiser reduzir os custos é marginalizado.  Com este espírito é muito difícil, mas essas medidas, tal como numa empresa, têm que ser tomadas. É melhor corrigir durante um ano ou dois e criar um novo rumo, com nova confiança e começar a crescer.Dentro do meu sector foi um escândalo o que aconteceu. Muitas empresas, quatro ou cinco das grandes, foram todas à falência nesta década porque estava tudo inflaccionado, não era baseado no valor histórico, nem na sua tradição, nem na experiência. Foi tudo à base de dinheiro barato, de dinheiro oferecido e de repente acabaram todos a fechar ou alguns a não abrir e isso veio destroçar o mercado de forma muito complicada.Pela dimensão do grupo lida com governos de 13 países. Como é que são as relações, divergem muito de um sítio para outro?Há divergências mas também uma coisa que é comum: todos eles sem excepção aceitam e vêem com bons olhos o investimento na área do turismo. Essa é a parte positiva. Uns são mais sofisticados do que outros. Por exemplo, aquele país que esperava ter menos problemas e que tive mais problemas do ponto de vista jurídico-legal foi a Inglaterra, pela sofisticação das leis e dos contratos, complicaram e atrasaram a obra  em dois três anos.Cada um tem sido uma experiência única. Muitas vezes fala-se de Venezuela, Caracas. Foi talvez foi o projecto que correu melhor, sem nenhuma dificuldade, sempre dentro dos prazos. Cumprimos, abrimos e correu sempre bem até hoje.Um hotel mencionado por Hugo Chávez perante empresários e primeiro-ministro português e que manifestou carinho pela marca!Pela coragem. Na altura a gente investiu na Venezuela quando muitos empresários não acreditavam ou tinham receio. É um país rico e dinâmico.Para se ter sucesso nos negócios importa haver governos que, pelo menos, não compliquem?É o mínimo. Se um governo é contra o capital e contra o sector aí uma pessoa sente-se mesmo a mais. Mas isso não acontece na Europa ou em África. Até recebo convites para ir a países que estão a começar, como os de Leste. Só que não podemos ir a tudo pois temos as prioridades definidas.O que se passa hoje no mundo é que os governos perceberam a importância que o Turismo tem para o desenvolvimento e enriquecimento de qualquer país.O Leste não o atrai para já?Atrair, atrai. É uma questão de tempo e de definições. Primeiro, a América do Sul e as grandes capitais europeiasEnquanto não fechar esse ciclo não vai a outro?Também tenho que deixar alguma coisa para a próxima geração senão!!!!!E como é que está a esse a nível?Estamos a preparar e a estruturar. Mas ainda faltam muitos anos. Ainda tenho muitos anos para dar.Os seus filhos interessam-se pelo negócio?Gostam! Interessar é uma coisa e ter capacidade é outra. Mas o tempo dirá e de certeza que eles também terão êxito e sucesso.ECM e Casino com quebras de 20%O mundo Pestana é diversificado. Ao todo são nove as áreas de negócio onde opera: hotelaria, golfe, casinos, imobiliário turístico, aviação, distribuição turística, timesharing, indústria e serviços.Percorrendo cada uma das suas áreas de negócio, qual o ponto da situação? O que lhe gera maior preocupação?Todo o negócio que está limitado à economia local e regional preocupa-me devido à falta de liquidez e de capital circulante.Tudo o que é hotelaria na Madeira não me preocupa porque o negócio vem de fora e enquanto não houver crises na Inglaterra e na Alemanha estou satisfeito. Nesse caso preocupa-me mais o que acontece nos dois países. Nas Pousadas preocupa-me o que acontece em Portugal porque vivem dos fins-de-semana dos portugueses. Na Madeira, preocupa-me a Empresa de Cervejas e o Casino.Houve uma diminuição de procura?Houve à volta de 20%, uma grande queda.Mais nas cervejas ou no Casino?Mais na animação. Houve uma quebra muito grande e é natural que seja assim porque há menos dinheiro.E a SDM que sofre efeitos de Portugal não acarinhar o CINM enquanto instrumento de desenvolvimento da Região?Tenho pena. O Centro Internacional de Negócios é um pilar da economia, como o Turismo. Foi pena que os madeirenses e continentais não se tenham apercebido da importância estratégica deste pilar. Só no último ano ou dois tentaram reagir.Foi tarde demais?Foi tarde no curto prazo. No médio e longo prazo tenho a certeza que o bom senso e a vontade política vão imperar para que tenhamos os instrumentos necessários para podermos competir no mercado internacional. Mas vai demorar muito tempo a recuperar a confiança do mercado internacional. Este é um produto que se vende com base na confiança. Foi pena as pessoas só verem a parte negativa em vez da parte positiva.Tenho pena que as notícias só falassem de investigações que fazem parte do sector como qualquer outro negócio. Mas tenho esperança.O que é que lhe garantem os governantes deste país a este respeito uma vez que ainda vigora a concessão à SDM do CINM?Temos uma concessão que acaba daqui a cinco anos. Depende do Governo. Se acha que temos qualidades em gerir e capacidade para continuar. Mas pode ser outros. Não seiMas da vossa parte há vontade em continuar?Sim. Achamos que temos conhecimentos. Aquilo é muito complexo. Temos a sorte de ter o Francisco Costa à frente da empresa que opera num mercado internacional altamente competitivo, onde os inimigos são todos a partir da Madeira e a concorrência é feroz. É preciso combater as forças visíveis e invisíveis.E como vai o timesharing?O timesharing recebeu o prémio de melhor unidade de negócio este ano. Continua a crescer porque é um produto para quem, com pouco capital, quer ter um investimento de médio e longo prazo. Continuamos a vender bem e já se passaram 28 anos.Deixou de ser alvo de preconceitos?Deixou. Continua a ser um grande negócio mas para um hoteleiro. Se for um hoteleiro a fazer negócio vai ter êxito, um hoteleiro que tenha projecção de longo prazo. Se for, como no passado, os construtores civis, as imobiliárias, a banca, os especuladores a pensar que vão ganhar dinheiro a curto prazo neste negócio vão morrer na praia. Não têm hipóteses nenhumas. Isto é um produto que se vende para um sonho, umas férias sem chatice. É preciso dar serviço e mais nada. O que se promete temos de entregar. É isso que temos feito.E a aviação?É um negócio difícil e complicado. Fomos para uma aviação muito específica que é fretar o avião e a tripulação e ir à procura do mercado que há muito lá fora e levar clientes a sítios onde a aviação comercial não consegue. Essa tem sido a nossa filosofia com algum sucesso.Nunca foi sondado para ter uma companhia de bandeira madeirense?Quando começamos chamava-se Air Madeira. Aliás, só entrei neste negócio nos anos 80 porque tínhamos estas camas todas e a TAP prestava um péssimo serviço: havia muitas greves, poucos voos por dia, as ligações com a Europa eram más, os operadores eram poucos. Tínhamos uma falta de oferta muito grande na aviação na Madeira. Como isto mudou e bem com a liberalização, a concorrência trouxe com êxito as ‘low cost’, já não há lugar para empresas como a nossa neste conjunto. Por isso, apostamos noutras áreas.O grupo tirou proveito do fenómeno ‘low cost’ tanto aqui como no Algarve?E no Porto, que não existia no mapa antes de ir para lá a Ryannair. De há três anos para cá os nosso hotéis estão cheios praticamente o ano inteiro. É um bom exemploNo Algarve, as ‘low cost’ trouxeram turistas de sítios que julgávamos não ser possível. Na Madeira a mesma coisa, principalmente em 2008,  com uma fantástica oferta de lugares. Com essa oferta provou-se que há mercado.Continua a ser válido o princípio de que não há turismo sem transporte aéreo.E o transporte tem que ser económico, porque as pessoas fazem contas e ter em conta as ligações directas. Ainda hoje se um inglês quiser vir na TAP, ou vem às 6h30 da manhã de Londres o que é uma coisa ofensiva -, ou vem via Lisboa. Mas se ele não for de Londres e for de Bristol, tem que ir de carro até Londres, fazer Londres-Lisboa e Lisboa-Madeira quando pode vir directamente de Bristol à Madeira por 20 a 30% do custo e voar a uma hora decente.E concorda com a política de apoio às rotas?A 100% porque acho que isso é a maneira mais económica de se fazer a promoção do destino.Lugar de Baixo ainda é hipótese com piscinas em vez de marinaApesar da polémica, "o local continua ser bom", o ideal para a imobiliária turísticaQuando vê a levadia e os estragos causados, deve ficar aliviado por não ter embarcado rumo ao Lugar de Baixo?Não. Na altura quando fizemos a proposta era a pensar um pouco na imobiliária turística. É o melhor lugar. Esse é um sector que ainda não começamos a trabalhar na Madeira.No Algarve com os golfes, nos últimos 10 anos fizemos 500 casas e vilas em imobiliária turística. Em Tróia temos nesta primeira fase 40. Mas na Madeira nunca. E há mercado e procura. Mas tem de ser à beira-mar, não pode ser na serra.Na altura quando fizemos o nosso trabalho de casa era ter um hotel base, como pilar, e depois à volta o desenvolvimento da imobiliária turística.Só que também veio a crise. Precisávamos de ter propriedade plena, o que não era possível por ser zona marítima. Tenho pena porque o local é fantástico.O nosso projecto era para esquecer a marina. Era fazer daquilo piscinas naturais, como tem o Porto Moniz, com umas pranchas e umas coisas bonitas que há agora no mercado para facilitar o acesso ao mar.Não vale a pena insistir na marina.O local continua a ser bom, é o que tem mais sol na Madeira é a beira-mar – e tudo o que é a beira-mar é sempre bom - mas credito no futuro.Também neste caso não fechou a porta?Nunca fecho portas, mas não é a nossa prioridade neste momento.Percebe-se que a vossa prioridade passa pela gestão de alguns dos activos que são colocados no mercado no âmbito dos fundos de recuperação de empresas. Está atento a mais algum negócio?Sim. Temos já dois anos de história. Primeiro foi o Vila Sol, no Algarve. Agora, o Colombo's, no Porto Santo. Temos estado em contacto com as entidades que são donas desses imóveis, que a gente acha que faz parte da nossa estratégia, tem o nosso standart e podem complementar a oferta existente, como é o caso do Porto Santo.O facto de ser uma gestão temporária limita-vos?O contrato é de cinco anos com a opção de renovar.Vai reforçar os recursos humanos?Vamos ter que ir buscar o pessoal correspondente.Como é que vai garantir a operação? Reforçará a parceria como operador britânico?O operador actual precisa de mais camas e há outros operadores de outros países que gostavam de entrar no mercado e de ter acesso a este produto. A procura é muito boa.De qualquer maneira o Porto Santo será sempre sazonal?Sempre sazonal sem complexos nenhuns. O que é preciso é estruturar a empresa de tal maneira de modo a ter custos só para seis meses se a gente só tem receitas em seis meses. No passado, no Algarve, muitas empresas falharam por causa disso. Tinham custos de 14 meses e receitas de 6. Hoje toda a Itália, França e Grécia é sazonal e estruturado dessa maneira.Reinventar  o Inverno e acabar com invejasA promoção do destino Madeira exige mais dinheiro público e unidade dos privadosQue leitura faz da forma como se gere o destino Madeira?É uma questão de prioridades e a Madeira tem outras prioridades e grandes para resolver. O turismo ainda assim é o sector que menos sofre porque tem uma dinâmica própria. Mas tenho pena que as pessoas não tenham um conceito, de unirem-se para poderem ir vender o Inverno. O Verão está vendido. Temos que manter e fazer o trabalho de casa, mas o Inverno sinto que, desde há 10 anos para cá, temos vindo a perdê-lo. Tem havido muita concorrência de outras áreas geográficas, de outro tipo de férias, os cruzeiros, o ski. Temos que reinventar um pouco o nosso produto de Inverno. Primeiro dizer o que é que a gente quer, o que é que precisamos, saber se os hotéis estão preparados para esse cliente de Inverno. Talvez temos de fazer outros investimentos, pois muitos dos nossos hotéis na Madeira já têm alguns anos. Falta talvez novidade, ou no produto ou no serviço ligado a esse produto.No seu entender falta um plano estratégico para a Madeira?Falta um plano de estratégico de todos. E que todos consigam dar os seus contributos e a sua opinião. Talvez seja hora de pegar papel em branco e tentar implementar o que se escreve.Pela sua importância marca para o bem e para o mal o turismo da Madeira nos últimos anos. Sente essa responsabilidade?Sou daqueles que nunca definiu prioridades e princípios de investimentos na área do Turismo a contar com a responsabilidade do Governo. Se o nosso investimento correr bem o mérito é nosso. Se correr mal também o mal é nosso. Não sou daqueles que ando aí a lamentar-me, a chorar e a chatear o Governo. Espero que o Governo tenha a noção que tem um papel a fazer. E para mim só tem um: a promoção. Mais nada. É preciso ter dinheiro para promover o destino.E acha que o dinheiro que tem sido aplicado na promoção é suficiente?Não é, de maneira nenhuma. Mas na lista de prioridades, o governo não tem dinheiro para tudo.A fórmula da Associação de Promoção resulta?Tinha que resultar...Nem sempre resulta?Não resulta porque aqui as pessoas...  O meio é pequeno – este modelo no Algarve resultou -  e quando o meio é pequeno há invejas, conflitos de interesses e isso acaba por prejudicar o destino.É por isso que eu digo que muitas vezes é melhor eu fazer a minha promoção, ir à procura do mercado e assumir o risco para o bem ou para o mal.Se for para contar com o governo já basta a legislação onde intervém e cada vez mais. Complicaram toda a parte do negócio para haver mais interferência do governo. Quanto menos interferência do governo houver melhor para as empresas e para o País.Por falar em interferências, Que dizer do IVA a 22%?É uma interferência que resulta de uma incompetência do governo dos anos passados e que agora este para corrigir passa uma factura à cabeça. Esse é um bom exemplo.Com efeitos nefastos no seu negócio?No ano passado, sem estar orçamentado, pois o IVA entrou em Fevereiro e não podíamos passar isso para o consumidor, este agravamento custou ao grupo 4 milhões de euros. E isso só mostra incompetência que vem de trás e interferência na estrutura do país. E depois são sempre os mesmos a pagar, as empresas e os trabalhadores.O mesmo se aplica à supressão de feriados, pontes e tolerâncias de ponto?Isso tinha que ser tudo corrigido porque a base é o trabalho e não o emprego. E esse trabalho tem que ser bem remunerado. Sou daqueles que acham que 500 euros é pouco. Agora tem que haver menos interferência do Governo e dos sindicatos e mais do mercado de trabalho.400 milhões de facturaçãoO Grupo Pestana fechou 2012 com que facturação? Subiu?Os resultados ainda não estão fechados mas não subiu. Desceu à volta de três, quatro pontos, mas está próxima dos 400  milhões de euros.Foi afectada por Portugal?Portugal, imobiliária turística e animação. Na hotelaria ficou rés-vés, compensada pelo Verão em Lisboa, no Algarve e na Madeira. Mas o Inverno foi mau na Madeira e no continente, e nas Pousadas.A América do Sul continua a ser excepção?Vai compensando. É por isso que nunca devemos por os ovos todos no mesmo cesto para que quando isto acontece puder compensar o cesto e os ovos.Uma conta que não sabe fazer Tem alguma coisa à venda?Nada.Já avaliou o seu património?Não.Não faz ideia de quanto é que vale?É uma conta que eu não sei fazer, nem vou fazer porque só se faz um dia quando for para vender. Como não está nada à venda, vou trabalhando e crescendo.Dos prémios e distinções que já recebeu qual foi a mais marcante?Talvez o mais recente, o de empresário do ano. Mas todos são importantes porque significam o reconhecimento de uma empresa e do Grupo Pestana que eu presido mas do qual fazem parte 6 mil trabalhadores. Sem eles, a trabalhar como trabalham e bem, não era possível alcançar resultados. Como tem que haver uma pessoa para receber o prémio vou eu!!!Qual é o seu destino de eleição?É aquele onde vou fazer as próximas férias!!!Como é que um homem ligado ao turismo passa férias? Foge dos hotéis?Ao contrário. No Verão vou ao Porto Santo. No fim de Junho vou ao Algarve. No fim do ano estive no Brasil. Fico nos meus porque penso que são os melhores.