Turismo

Medidas decididas pela TAP eram expectáveis mas cenário é preocupante

O presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil disse hoje que eram esperadas as medidas anunciadas pela TAP para reduzir a operação e custos perante o impacto do Covid-19, mas que o cenário é preocupante.

A TAP esteve hoje reunida com o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) para justificar as medidas anunciadas na quinta-feira.

"O sindicato vê estas medidas com muita preocupação. O sindicato reconhece que [este momento] não é fácil. No entanto, temos esperança que tudo se resolva da melhor maneira, mas o cenário que a companhia traçou foi de preocupação", apontou o presidente do SNPVAC, Henrique Louro Martins, em declarações à Lusa.

No entanto, este responsável vincou que já eram esperadas estas medidas, uma vez que várias companhias, a nível mundial, já estavam a tomar opções semelhantes.

Em causa está a decisão da transportadora portuguesa reduzir a capacidade em março e abril devido ao "forte abrandamento" nas reservas, em pleno surto de Covid-19, num total de 1.000 voos.

Por outro lado, a Comissão Executiva da TAP vai implementar medidas para reduzir e controlar custos, incluindo a suspensão ou adiamento de investimentos e de contratações e a "implementação de programas de licenças sem vencimento temporárias", segundo uma nota enviada aos trabalhadores.

Conforme apontou hoje Henrique Louro Martins estas medidas vão também impedir promoções e cancelar os cursos para novos comissários.

"É uma preocupação e representa um decréscimo da atividade da empresa", notou.

Questionado sobre se a companhia tinha dado alguma previsão para reverter esta situação, o presidente do SNPVAC disse que a empresa referiu que "é cedo" para fazer qualquer tipo de promessa.

"Estamos numa altura em que a situação que se vive em torno deste problema do [novo] coronavírus não permite fazer previsões a curto e, talvez, médio prazo", concluiu.

A presidente da Comissão de Trabalhadores (CT) da TAP, Cristina Carrilho, disse hoje à Lusa que considera "normal que haja uma contenção de custos", na sequência da proposta da administração de programa de licenças sem vencimento voluntárias.

"É normal que haja uma contenção de custos, porque a empresa tinha uma expectativa de ter um determinado lucro, que não vai efetivamente ter", defendeu Cristina Carrilho, ressalvando, porém, que a CT vai estar atenta ao desenvolvimento da situação.

Em causa está a decisão da TAP de abrir um programa de licenças sem vencimento a todos os trabalhadores do negócio da aviação, por um período mínimo de 30 dias e máximo de 90 dias, que abrange os meses de abril, maio e junho.

Segundo o comunicado enviado pelos recursos humanos aos trabalhadores na quinta-feira à noite, a que a Lusa teve acesso, o programa voluntário e temporário de licenças sem vencimento tem como objetivo "dimensionar a força de trabalho à atividade operacional atual", que teve uma queda acentuada devido à propagação do novo coronavírus.

"Aquilo que acho que será mais preocupante é, efetivamente, o facto de ficarem aviões no chão e o nível de cancelamentos que tem havido", sublinhou Cristina Carrilho, que admitiu também não acreditar que a proposta da gestão da transportadora aérea vá ter muita adesão por parte dos trabalhadores.

"Se essas medidas se mantiverem quando esta questão do Covid-19 estiver sanada, pois aí temos que ter outro tipo de intervenção e temos que ter outro tipo de reação", acrescentou.

De acordo com a informação divulgada pela TAP aos trabalhadores, os interessados em aderir ao programa, que abrange pilotos e tripulantes de cabine, devem inscrever-se, indicando o período pretendido - entre um e três meses, período durante o qual os trabalhadores "mantêm o direito de facilidades de passagem, bem como o seguro de saúde", lê-se no documento.

Na mesma informação é explicitado que os pedidos de licenças sem vencimento de pessoal navegante (pilotos e tripulantes) apenas para o mês de abril "devem ser enviados [para o email indicado] até 10 de março, inclusive", enquanto os restantes pedidos, de pessoal de terra para os meses de abril, maio e junho e de pessoal navegante para maio e junho podem ser enviados até 15 de março.

"Todos os pedidos serão objeto de análise e decisão da comissão executiva", alertam os recursos humanos da TAP, realçando que "o pedido [de licença sem vencimento] não implica a aceitação automática do mesmo".

Segundo a empresa, a resposta aos pedidos será dada durante a semana de 23 de março.

A TAP admite ainda que podem ser equacionadas "prorrogações das licenças sem vencimento" para além do período previsto, "se tal se verificar oportuno e necessário".

Na quinta-feira, a comissão executiva da TAP anunciou a implementação de medidas para reduzir e controlar custos, incluindo a suspensão ou adiamento de investimentos e de contratações e a "implementação de programas de licenças sem vencimento temporárias", segundo uma nota enviada aos trabalhadores.

"Vamos implementar um conjunto de iniciativas que visam controlar e reduzir custos como suspensão ou adiamento de investimentos não críticos, corte de despesas acessórias, renegociação de contratos e prazos de pagamento, antecipação de crédito junto de fornecedores, suspensão de contratações de novos trabalhadores, bem como a implementação de programas de licença sem vencimento temporárias", refere a comissão executiva liderada por Antonoaldo Neves.

Na mesma nota, a TAP diz aos colaboradores que "a evolução do surto do coronavírus tem tido também um crescente impacto na economia global, sendo os setores do turismo e da aviação civil dos mais impactados".

Segundo a comissão executiva da transportadora, "em janeiro e fevereiro não houve impacto negativo" no negócio, mas "nos últimos dias observou-se uma significativa quebra nas reservas, com impacto direto" nas vendas.

Por isso, a TAP resolveu implementar medidas para a "adequação da oferta" e "gestão cuidada da posição de caixa, para continuar a manter a liquidez necessária que a atividade exige", lê-se na nota.

A companhia aérea vai, assim, cancelar cerca de mil voos em março e abril, "reduzindo a capacidade em 4% em março e 6% em abril, o que representa um total de cerca de 1.000 voos", explicou a empresa, num comunicado hoje enviado às redações.

Segundo esta nota, os cancelamentos "incidem especialmente na operação para cidades nas regiões mais afetadas, sobretudo Itália, mas contemplam também a redução de oferta em outros mercados europeus que mostram maiores quebras da procura, como Espanha ou França", incluindo ainda "alguns voos intercontinentais, dado o modelo de operação da TAP, como companhia de longo curso e conexão".