Turismo

Erupção fez aumentar procura turística, mas operadores queixam-se da falta acessos

A erupção vulcânica de 2014 fez aumentar a procura pela ilha cabo-verdiana do Fogo, mas operadores e autarcas temem que a insuficiência de voos e as limitações no acesso ao vulcão afastem os turistas.

Gerente de uma das principais agências de viagens na cidade de São Filipe, Fátima Louro disse à agência Lusa que este ano regista-se "um aumento da procura potencial" por parte dos turistas, procura a que os operadores não conseguem responder.

"Houve um aumento da procura potencial, mas nós não temos como dar resposta a essa procura devido à carência nos transportes", disse, acrescentando que, após a erupção, a ilha passou a contar com "menos um voo por semana".

"Tivemos oportunidade de participar numa feira de turismo em Paris em setembro e há muita procura por parte dos operadores e um interesse maior" mas "não há o que fazer", lamentou.

No mesmo sentido, Vincent Jorgens, empresário dinamarquês que gere uma empresa que combina alojamento, restaurante e excursões turísticas na cidade de São Filipe, lamenta não conseguir responder à média diária de 50 a 70 pedidos de reserva por falta de transporte.

"De uma maneira geral este ano temos mais turistas, porque no ano passado ninguém veio, e claro todos querem ir lá acima [Chã das Caldeiras] ver onde foi a erupção, mas poderíamos ter mais turistas se tivéssemos melhores ligações", disse.

Segundo Vincent Jorgens, as dificuldades para chegar e sair da ilha acabam muitas vezes por levar os turistas a desistir de visitar o Fogo.

"Temos um grande problema com os transportes em Cabo Verde. Não há voos suficientes e isso está a matar o turismo do Fogo. As pessoas viajam da Europa para a Boavista ou o Sal de forma rápida e barata, mas depois ficam bloqueadas. É extremamente difícil chegar ao Fogo", acrescentou.

Luís Pires, autarca de São Filipe, maior cidade da ilha e município onde está concentrada a maioria dos alojamentos e restaurantes, entende que o mediatismo da erupção vulcânica teve um papel fundamental na promoção turística do Fogo.

"O turismo para a ilha do Fogo nasceu depois desta erupção vulcânica pela forma mediática como a erupção chegou ao mundo e por mérito próprio, porque Chã das Caldeiras é um ex-libris de Cabo Verde", defendeu.

Contudo, o autarca lamenta que, um ano depois da erupção vulcânica do Fogo, não exista ainda "uma definição clara" sobre que turismo fazer.

Com a época turística a começar, a Proteção Civil de Cabo Verde levantou na semana passada a proibição de escalada ao pico principal do Fogo, em vigor desde maio, mas mantêm a interdição de escalada ao pico da erupção vulcânica de 2014.

Apesar da proibição em vigor, guias e turistas sobem diariamente aos picos das três erupções - 1951, 1995 e 2014 - no interior de Chã das Caldeiras.

"Não podemos estar a impedir turistas de visitarem um espaço tão apetecível e tão procurado como é Chão das Caldeiras e o vulcão. Em várias partes do mundo há turistas que fazem deslocações para assistir a vulcões em erupção. Nós aqui impedimos as pessoas de ver por causa do risco. Temos que criar as condições", defende Luís Pires.

"Ninguém deseja uma erupção, mas acontecendo, temos que entender que o vulcão acabou por fazer uma espécie de autopromoção de uma ilha com grandes potencialidades e potencialidades ainda adormecidas", sublinhou.

Para Marisa Pina, proprietária dos alojamentos Casa Marisa e Pedra Brava, destruídos pela erupção de 23 de novembro, a grande dificuldade passa agora pela falta de acessos às localidades de Chã das Caldeiras.

Marisa Pina reergueu e ampliou já um dos hotéis, que se chama agora Casa Marisa II, e está em pleno funcionamento desde 01 de outubro.

"A estrada está péssima e os taxistas não podem subir. Há muitos clientes que vêm até à entrada de Chã das Caldeiras, tiram algumas fotos e vão para São Filipe. Há também muitos que cancelam Fogo porque o transfer é agora mais caro por causa do acesso que é muito mareado", disse.

Marisa apela por isso ao Governo para que melhore a estrada, considerando que a não ser assim não haverá "muito sucesso com o turismo".

Dados avançados à Lusa pelo vice-presidente da Associação de Guias de Chã das Caldeiras, Cecílio Montronte, dão conta de uma média diária de 70 a 80 turistas que sobem ao vulcão, o que está a tornar os 42 guias da associação insuficientes para tanta procura.

Oriundos principalmente da França e Alemanha, os turistas que visitam a cratera são agora sobretudo curiosos, depois de uma vaga de investigadores, cientistas e académicos que veio logo após a erupção.

Por curiosidade e insistência do filho, que adora vulcões, veio o dinamarquês Klas Bendtsen e a mulher.

"Fizemos a escalada com o nosso guia e foi fantástico, maravilhoso, espetacular. Ir até ao pico, ver cratera da erupção de 2014 e depois deslizar até cá baixo?" contou.

O vulcão do Fogo entrou em erupção a 23 de novembro do ano passado, causando prejuízos avaliados em cerca de 30 milhões de euros.

Durante os 77 dias que durou, a erupção vulcânica, uma das três registadas no interior da caldeira nos últimos 63 anos - 1951 e 1995 -, destruiu Portela e Bangaeira, os dois povoados de Chã das Caldeiras, planalto que serve de base aos vários cones vulcânicos do Fogo, obrigando à retirada dos cerca de 1.500 habitantes locais.

A lava destruiu também várias pequenas unidades hoteleiras da região, mais de 30 por cento dos 700 hectares de terra cultivável e várias infraestruturas.