Turismo

Turismo com quebras na procura, mas com expectativa de dias melhores

Hotéis, hostéis e casas de alojamento local dos concelhos afetados pelos incêndios de outubro de 2017 falam em quebras na procura, mas acreditam que, com o regresso do verde, no espaço de alguns anos, se possa voltar ao ritmo anterior.

As histórias são distintas e há quem fale em quebras reduzidas, outros em manutenção da faturação anterior e ainda outros em reduções drásticas da procura, mas quase todos os operadores da região afetada pelo grande incêndio de outubro, há precisamente seis meses, acreditam que serão precisos alguns anos para recuperar o ritmo de crescimento que sentiam num setor que se alicerçava no turismo de natureza e que agora precisa de se reinventar face à paisagem negra.

Ruben Silva decidiu há dois anos trocar Lisboa pela terra da família, Pampilhosa da Serra, onde recuperou duas casas de xisto, em Fajão, para alojamento local.

Com os incêndios de outubro, teve que fechar o negócio e só reabriu há dois meses, que a parte exterior de uma das casas foi afetada pelo fogo.

Na aldeia de Fajão, arderam nove casas e tudo o que era verde desapareceu, mas, se estava na expectativa de ter uma quebra acentuada na procura, ela não se registou.

"Notámos um bocadinho de quebra. Antes, não tínhamos praticamente dias vagos e agora, numa semana, é capaz de sobrar dois dias", conta à agência Lusa Ruben Silva, sublinhando que o mês de agosto já está completamente preenchido.

As mudanças, notou, surgiram mais nas propostas aos turistas sobre o que fazer durante a estada.

Se dantes promoviam visitas guiadas em torno da natureza, hoje procuram ter um produto "mais virado para a gastronomia e eventos".

Também na Pampilhosa da Serra, noutro alojamento local na freguesia de Fajão, a história de Odete Almeida é outra.

"Sentimos muito o impacto dos fogos, principalmente de estrangeiros. Tínhamos muitos estrangeiros e reduziu bastante", constatou, sublinhando que este é o ano em que tem menos reservas para o mês de agosto.

João Martins, um dos responsáveis da Casa da Moenda, na zona de Benfeita, em Arganil, mostra-se "surpreendido pela positiva".

Após os fogos de outubro, ainda pensou em fechar a casa, mas hoje está satisfeito por não o ter feito.

"Estou surpreendido com o movimento que temos tido. Janeiro foi melhor que o ano passado, já fevereiro não. Acredito até que iremos atingir, ao longo do ano, os níveis do ano passado", disse à Lusa o proprietário.

“Os hóspedes continuam a vir para passear, outros para perceber o que foi o incêndio e alguns dizem-me que também é responsabilidade deles vir e apoiar e mostrar que não estamos sozinhos", sublinhou João Martins.

Susana Nunes, uma das sócias gerentes de uma empresa com três casas na aldeia de Casal Novo, Arganil, afirma que um dos maiores impactos dos incêndios foi a falta de comunicação - esteve seis meses sem internet e sem telefone fixo.

"Foi um grande transtorno", sublinhou, considerando que 2017 foi o melhor verão desde que abriram, em 2008, tendo a expectativa de uma quebra acentuada.

As pessoas "vinham pela paisagem, pelo rio Ceira, pelo verde. Tudo se alterou: a paisagem está negra e as estradas péssimas", vincou Susana, referindo que só daqui a dois ou três anos espera voltar a ter "um ritmo aceitável".

"Quem é que vem para ver áreas queimadas? Temos que nos reinventar", disse.

Também a gerente do hotel Stroganov, em Oliveira do Hospital, a russa Marina Kartashova, sublinha que o principal problema foi a falta de telefone fixo e de internet nos primeiros dois meses.

Alzira Frade sentiu de outra forma o impacto dos incêndios. A sua habitação, em Vila Franca da Beira, Oliveira do Hospital, ardeu com o incêndio e teve que ir viver para uma das casas que explorava para alojamento local.

Na casa que continuou a explorar, não notou quebras no mês de fevereiro, por causa da procura pela Serra da Estrela, mas salientou que, para a frente, não tem muitas reservas.

"Tudo o que tínhamos de floresta e paisagem está completamente alterada. Vamos sofrer graves consequências no futuro", diz.

Já no Ohstel, aberto desde 2016 no centro de Oliveira do Hospital, se houve um decréscimo "bastante grande" de turistas, surgiu, por outro lado, um aumento de procura por parte de "técnicos e da construção civil" que estão a trabalhar na reconstrução do que ardeu, disse à agência Lusa o responsável do espaço, Ricardo Nogueira.

"Isto não vem nos manuais e nós, aos poucos e poucos, temos que nos habituar a esta paisagem e adaptarmo-nos àquilo que temos. Não podemos baixar os braços", vincou.