Turismo

Sobrecarga turística é miragem

Os responsáveis pelo turismo em Portugal recusam haver problemas de sobrecarga turística, nomeadamente em Lisboa e no Porto, depois de ter sido revelado esta quarta-feira que as cidades têm oito e nove vezes, respetivamente, mais turistas do que residentes.

À margem da 13.ª edição do Fórum de Turismo Internacional (FIT), o presidente do Turismo de Portugal (TP), Luís Araújo, e o presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, Melchior Moreira, relativizaram o problema levantado pelo estudo conduzido pelo Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo (IPDT), António Jorge Costa, que expôs que Porto e Lisboa têm uma maior pressão turística do que Londres, Barcelona e Praga.

Em respostas aos jornalistas, Luís Araújo preferiu sublinhar o “positivo que o turismo trouxe para as cidades e regiões”, em termos de “revitalização urbana e criação de emprego”, e acrescentou ainda que “atenuar” os números da dita “pressão turística” não é uma questão que cabe ao Turismo de Portugal.

“Temos de ver o efeito positivo que tem e como potenciar este efeito. Com uma consciência de que as cidades têm que ser positivas para quem cá vem e para quem cá vive. Um dos grandes objetivos para os próximos 10 anos é que 90% das populações residentes nas regiões de maior densidade turista reconheçam a atividade turística como positiva para o país”, explicou, acrescentado que o “turismo é o principal agente da mudança para um território agradável para turistas e residentes”.

Melchior Moreira recusa a “ideia que se vende na imprensa de que há cidades com sobrecarga de turistas”, comparando com outras cidades europeias com “problemas gravíssimos” como Veneza e Dubrovnik, afirmando que o Porto está longe desses resultados, apontando ainda para os resultados de crescimento em regiões como o Minho, Douro e Trás-os-Montes.

“Não está a prejudicar os residentes”, disse o responsável pelo turismo nortenho, remetendo para os problemas da cidade há 10 anos atrás, que tinha um centro “desertificado” e que agora tem um “investimento claro no centro histórico e na regeneração urbana”, procurando “criar outros espaços abandonados e atrativos em termos de promoção turística” e que os habitantes locais “beneficiam da atividade económica”.

“Tem havido a preocupação com agentes públicos, com as câmaras municipais, associando o setor privado, movimento associativo e a área hoteleira para perceber o que temos para dar em termos de território para não haver situações de exagero, sobrecarga, mal-entendidos e indisponibilidade por parte de quem habita para receber os turistas. Isso era o pior que podia acontecer ao destino, serem mal recebidos pelos habitantes locais, ou não recebidos por ninguém por não haver locais”, finalizou.

Por seu lado, durante o discurso, António Jorge Costa disse que o momento recente do turismo é um “bom prenúncio” e crê que a área está num bom caminho, mas alertou que se o crescimento não for bem gerido pode levar “à redução de qualidade de serviço e crescimento de oferta, recusando também ele a ideia da sobrelotação de turistas.

“Em Portugal não estamos no limiar do ‘sobreturismo’. Há turismo concentrado em algumas regiões, mas cabe-nos a nós criar outras atrações para desconcentrar e ‘não deitar fora a criança com a água [do banho]’. Porque durante anos a fio lutamos para que Portugal fosse um destino de sucesso em termos de turismo. Hoje temo-lo e, portanto, vamos saber gerir e tirar os dividendos que permite a todos ter qualidade de vida”, comentou.