Turismo

Hoteleiros do Algarve criticam oferta que atrai turistas com "comportamentos desviantes"

As ofertas de baixo custo que estão disponíveis no Algarve contribuem para atrair turistas com "comportamentos desviantes", considerou hoje o presidente da maior associação hoteleira da região, que pede mais fiscalização aos estabelecimentos de diversão noturna.

"Existe a ideia instalada neste tipo de clientela de que em Albufeira há uma oferta que lhes proporciona comportamentos desviantes", disse à Lusa o presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, considerando que "o que está errado" é o modelo de oferta, que "atrai este tipo de turista".

No domingo à noite, numa zona de bares em Albufeira, a GNR foi chamada devido a desacatos entre jovens estrangeiros e na terça-feira, segundo a PSP, registou-se uma rixa entre duas mulheres no aeroporto de Faro.

Neste caso, não chegou a haver intervenção policial, mas três jovens foram rejeitados a bordo por aparentemente estarem alcoolizados.

Sobre a ocorrência de domingo à noite, a GNR escusou-se a prestar informações.

O programa "Portugal invasion" -- apresentado pelos promotores como um festival e que terminou na terça-feira - levou centenas de jovens britânicos a Albufeira com a promessa de "sete dias sem parar de sol, mar, álcool e festas", incluídos num pacote que oferecia voos, alojamento e festas temáticas, algumas com bar aberto, a troco de 677 euros.

De acordo com Elidérico Viegas, alguém "tem que tomar medidas para alterar a situação", começando pelas entidades que autorizam e fiscalizam os estabelecimentos de diversão noturna, que muitas vezes não cumprem a lei do ruído, as regras da venda de álcool a menores e a ocupação do espaço público.

"Este tipo de estabelecimentos funcionam de forma nitidamente desajustada e as entidades competentes não têm tido capacidade para os fiscalizar", criticou, sublinhando que os bares não deveriam funcionar "toda a noite", com horários de discoteca.

Segundo Elidérico Viegas, há estabelecimentos em Albufeira "direcionados para uma clientela jovem, muitas vezes menor, que funcionam em períodos que vão para além do que é minimamente razoável, permitindo que haja comportamentos desviantes".

Para o líder da maior associação hoteleira da região, esta situação "coloca em causa a imagem do concelho e da região" e é um modelo de desenvolvimento que tem que ser repensado para que o distrito de Faro possa ter "um turismo sustentável e competitivo".

De acordo com o empresário, em algumas zonas turísticas de Espanha já foram tomadas medidas para evitar este tipo de comportamentos, o que tem contribuído para desviar estes turistas para o Algarve.

Pelo contrário, na região, e especificamente em Albufeira, que é o maior destino turístico do Algarve, existem "balcões de venda de bebida na rua, sem qualquer controlo", e bares que funcionam "como autênticos guetos".

Esta permissividade terá criado junto dos potenciais turistas "a sensação" de que no Algarve há margem para "comportamentos desviantes, em oposição a outros destinos concorrentes" que entretanto tomaram medidas, concluiu.

Desacatos foram casos pontuais mas é preciso cuidado com algumas ofertas

Por seu lado, o presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA) considerou que os incidentes ocorridos com jovens de férias em Albufeira nos últimos dias "são casos pontuais", mas alertou para a necessidade de repensar determinados tipos de oferta.

"São incidentes que não ajudam nenhum destino turístico e que devem ser evitados para que a imagem da região não seja posta em causa, porque o Algarve é um destino consolidado e de referência", disse à agência Lusa o presidente da RTA, Desidério Silva.

Segundo o responsável, os incidentes ocorridos no domingo passado na zona dos bares da Oura, em Albufeira, verificaram-se entre um grupo dos cerca de mil turistas que viajaram para a região no âmbito de um pacote de férias a baixo preço.

"É preciso haver algum cuidado na venda das ofertas a baixo preço para um destino como o Algarve, que está em alta e com muita procura", e precisa, antes, "de um nível médio/alto de turistas", sublinhou o presidente da RTA.

Na sua opinião, "existem corresponsabilidades que devem ser analisadas", para alterar este tipo de ofertas e de disponibilidade da região para receber estes grupos.

"Tenho procurado junto das entidades que têm mais interferência neste processo, para tentar encontrar soluções para minimizar todos estes impactos", destacou.

De acordo com Desidério Silva, o que aconteceu está a ser analisado, no sentido de se encontrarem formas que possam prevenir "situações como as que ocorreram em Albufeira".

Essa prevenção, sublinhou, passa também pelas autoridades que têm competência na área da segurança.

"Já falei com o comando da GNR a nível distrital, que deu todas as garantias de que estarão atentos para prevenir e tentar perceber como é que estes grupos chegam e onde estão, para intervirem como força dissuasora para que isto não se repita e não coloque em causa a imagem do Algarve", frisou.

Por seu turno, o presidente da Associação dos Comerciantes de Albufeira, Luís Alexandre, disse à Lusa que "as rixas entre turistas de férias na região acontecem todos os anos, verificando-se principalmente nas zonas junto aos bares", motivadas pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas.

"Não existe nos comerciantes nenhum sentimento de insegurança, porque estes incidentes ocorrem junto aos bares, mas não são batalhas campais como aquilo que tem sido divulgado", destacou.

Segundo Luís Alexandre, "não há registo de comerciantes que tenham sido lesados por desacatos ou problemas graves, embora se registem pequenos distúrbios", normais em qualquer zona comercial.

O representante dos comerciantes de Albufeira defende "um maior policiamento com visibilidade, como fator de dissuasão, na zona dos bares onde existe uma maior concentração de pessoas que tendencialmente provocam os incidentes devido ao consumo de álcool".