Turismo

Aeroporto de Beja tem tido "muitas dificuldades em consolidar-se"

O aeroporto de Beja, que custou 33 milhões de euros e foi inaugurado há seis anos, tem tido "muitas dificuldades em consolidar-se", porque não há operadores aéreos interessados em usá-lo, reconheceu hoje o diretor da infraestrutura.

A operar desde 2011, "o aeroporto de Beja tem tido uma fase de arranque extremamente difícil e sentido muitas dificuldades em consolidar-se", disse José Natário, em Beja, na sua intervenção na primeira conferência do Movimento de Cidadania Melhor Alentejo, que decorreu hoje em Beja.

Segundo o responsável, há um "fator crítico" e uma "razão simples" que têm "condicionado" as expetativas da região de que o aeroporto iria ter tráfego de passageiros por via do turismo e de carga por via do desenvolvimento agrícola", ou seja, "os operadores aéreos, que são os agentes críticos neste negócio, não têm procurado a infraestrutura".

José Natário disse que o aeroporto tem capacidade para processar 1.500 passageiros/ano, mas que "ainda assim é algo limitada se pensarmos em responder àquilo que eram os pressupostos iniciais".

Por outro lado, frisou, os operadores aéreos "não voam para um aeroporto, voam para um destino turístico", que é o que torna uma infraestrutura aeroportuária "atrativa".

"O Alentejo tem recebido uma notoriedade crescente nos últimos anos enquanto destino internacional, mas ainda não é um destino turístico que tenha uma notoriedade vasta", lamentou.

A economia e a demografia são "dois elementos fundamentais como indutores de tráfego", mas no Alentejo "não estão suficientemente consolidados" para que "o transporte aéreo em si seja um elemento determinante", disse.

O número de dormidas no Alentejo, apesar de ter vindo a crescer nos últimos anos, rondou um milhão e 560 mil, dos quais 65% foram de turistas portugueses e apenas 35% de turistas vindos do estrangeiro, precisou.

No entanto, José Natário disse que não ter dúvidas de que o aeroporto de Beja "terá que desempenhar um papel para a afirmação do Alentejo como destino internacional, mas até ao momento essa realidade ainda não está consumada".

Segundo José Natário, a ANA, confrontada com as "fragilidades" do aeroporto de Beja no seu objeto de negócio, "naturalmente, teve que encontrar alternativas que viabilizassem a infraestrutura, enquanto efetivamente ela não se assume nas componentes de tráfego de passageiros e de carga".

"Não havendo procura" por parte de operadores aéreos e devido à "ausência de potencial de crescimento em alguns segmentos fundamentais", a ANA repensou a estratégia para o aeroporto de Beja e apostou no segmento de estacionamento de aviões, que é "relevante", e em atividades de indústria aeronáutica, explicou.

"Já começam a existir frutos e resultados práticos e sólidos dessa estratégia", disse, lembrando que o Governo aprovou no passado mês de abril uma resolução que vai permitir viabilizar o projeto da empresa portuguesa Aeroneo de construção de uma unidade de manutenção e desmantelamento de aviões no aeroporto de Beja, num investimento de 35 milhões de euros, que deverá arrancar este ano.

Também na área da indústria aeronáutica, há mais dois possíveis projetos para o aeroporto de Beja, sendo que um está "em fase de negociação" e outro numa fase "mais avançada", disse José Natário, referindo não poder revelar mais pormenores.

No segmento de estacionamento de aviões, segundo a ANA, o aeroporto de Beja é a base de operações de parte da frota de aeronaves das companhias aéreas Hi Fly e euroAtlantic airways.

José Natário disse que o aeroporto de Beja, que tem um terminal com capacidade para processar 50 mil toneladas de carga e que não está a ser usado, já recebeu "visitas de vários operadores logísticos, que ficam interessados, quase encantados, mas depois falta a decisão".

Também há uma área adjacente ao aeroporto de 770 metros quadrados, onde empresas se podem instalar, mas para tal "tem que haver iniciativa e dinamização por parte dos empresários e das entidades que têm capacidade de decisão para motivar e criar as condições para que as empresas lá se radiquem", disse.

Em reação à ideia de que a ANA não tem interesse no aeroporto de Beja, José Natário disse que a empresa não é proprietária de nenhuma companhia aérea, nem operador logístico ou turístico, apenas gere a infraestrutura e, "naturalmente, procura desenvolvê-la e dinamizá-la".

O aeroporto de Beja, que resulta do aproveitamento civil da Base Aérea n.º 11, começou a operar a 13 de abril de 2011, quando se realizou o voo inaugural, mas, desde então, apesar de aberto, tem estado praticamente vazio e sem voos e passageiros na maioria dos dias.