Turismo

Peso do turismo religioso em Portugal oscila entre 10 e 14%

O turismo religioso poderá representar entre 10% a 14% do total do turismo nacional, estima um investigador e docente da Universidade Católica de Braga, segundo o qual o peso de Fátima "é muito significativo".

Em entrevista à agência Lusa, a propósito da visita a Portugal do papa Francisco, em 12 e 13 de maio, o investigador Varico Pereira, docente da licenciatura e mestrado em Turismo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, da Universidade Católica de Braga, começou por apontar que só o santuário de Fátima recebeu mais de 5 milhões de visitantes no ano passado.

A juntar a isso, e segundo dados do gabinete oficial de estatísticas da União Europeia, Portugal recebeu 60,6 milhões de turistas em 2016.

Por outro lado, a secretária de Estado do Turismo, Ana Godinho, afirmou, no ano passado, no decorrer de uma visita ao Brasil, que o turismo religioso atraía todos os anos 3,3 milhões de visitantes estrangeiros.

Varico Pereira alertou que os mais de 5 milhões de peregrinos que o Santuário de Fátima recebe não poderão ser todos incluídos nos mais de 60 milhões de turistas que o país recebeu, já que a maioria das pessoas que visita Fátima são portuguesas.

E salientou que "o peso de Fátima [no turismo religioso] é muito significativo", admitindo que "provavelmente 90% dos turistas religiosos que vêm a Portugal passam por Fátima".

No entanto, no peso total do turismo religioso nacional não conta apenas Fátima, já que o país tem outros pontos de atração, dando como exemplo o Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, e salientando que "cerca de 75% do património visitável [de Portugal] é religioso".

Factos que levam o investigador a concluir, apesar de não haver estimativas oficiais, que o turismo religioso em Portugal "andará entre os 10% e os 14% de certeza absoluta".

"Portugal tem vindo a crescer e neste último ano, em 2016, bateu recordes em termos de dormidas e de receitas. É uma realidade nacional, obviamente concentrada em Fátima, mas que atravessa todo o país", defendeu o docente e investigador.

Os peregrinos que todos os anos visitam Fátima, sublinhou, vêm de mais de cem países diferentes, o que faz com que Fátima seja um contributo importante não só para o que é "a dimensão do país em termos nacionais, mas também para aquilo que é a sua internacionalização".

De acordo com o Santuário de Fátima, "o maior grupo [de peregrinos] vem sempre de Espanha, dada a proximidade geográfica, seguido de Itália, Polónia, Brasil, Ucrânia e França".

"É curioso porque tem vindo a subir o número de asiáticos em Fátima, com uma média de cinco [mil] a seis mil peregrinos sul coreanos", destaca, acrescentando que, até final do mês de março tinham-se registado 718 grupos.

Da parte do Santuário de Fátima não é possível saber qual o resultado global financeiro ou o valor das receitas, sabendo-se apenas que esse valor foi "o necessário para cobrir as despesas e garantir uma gestão equilibrada" de uma estrutura onde trabalham 311 pessoas e mais 432 colaboram em regime de voluntariado, não revelando também qual o valor das doações feitas pelos peregrinos.

Para Varico Pereira, não há em Portugal outro fenómeno como Fátima, que tem uma "dimensão internacional única", apontando que a própria cidade constrói-se à volta do Santuário, o que faz com que "toda a atividade turística que acontece em Fátima, dependa do que acontece no Santuário".

Ressalvou, por outro lado, que o turismo tem um efeito multiplicador na economia, abrangendo hotelaria, restauração, transportes, comércio ou empresas de animação turística, efeito que também se aplica ao turismo religioso.

O investigador disse ainda acreditar que o turismo religioso continue a aumentar, apontando 2017 como um "ano excecional".

Já o Turismo de Portugal entende que o país tem "condições únicas para se apresentar como um destino distintivo de turismo religioso (com 900 anos de história), ponto de cruzamento das principais religiões".

Defende essa posição com "fatores de competitividade" como o caminho português de Santiago de Compostela, a valorização do património material e imaterial alusivo à herança judaica no país, além de todo o património associado ao culto religioso.